O Setembro Amarelo é muito mais do que uma campanha de conscientização pontual: é um movimento que reforça a necessidade de olhar para a saúde mental com atenção, ética e empatia, dentro e fora do ambiente corporativo. No Brasil, a iniciativa começou em 2015, promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), com o objetivo de quebrar tabus, estimular diálogos abertos sobre sofrimento emocional e oferecer caminhos de apoio a quem enfrenta momentos de vulnerabilidade. O movimento teve início a partir de uma experiência trágica ocorrida nos Estados Unidos na década de 1990, que levou familiares e amigos a criarem um símbolo de prevenção e valorização da vida.
A importância da prevenção e o papel do trabalho
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 700 mil pessoas morram por suicídio todos os anos no mundo, enquanto no Brasil os registros chegam a aproximadamente 14 mil casos anuais, segundo o Ministério da Saúde. A própria OMS indica que até 90% desses casos poderiam ser evitados com medidas adequadas de prevenção, como acesso a serviços de saúde mental, campanhas educativas, apoio familiar e ambientes de trabalho mais seguros e equilibrados.
Nesse sentido, fatores psicossociais como pressão excessiva, assédio, discriminação, isolamento social e falta de reconhecimento impactam diretamente a saúde mental e também a integridade física do trabalhador, podendo resultar em doenças cardiovasculares, distúrbios imunológicos, maior risco de acidentes e queda na produtividade. O assédio moral e o bullying corporativo, muitas vezes invisibilizados, agravam esse cenário, corroendo a autoestima e ampliando a vulnerabilidade emocional. Combater essas práticas exige políticas claras, canais de denúncia acessíveis, treinamentos de liderança e cultura de respeito mútuo. As mudanças da NR-1 (Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais) também reforçam que fatores psicossociais devem ser tratados como riscos reais, integrando a prevenção ao cotidiano das organizações.
Outro desafio é o acesso desigual ao cuidado. Enquanto alguns trabalhadores têm planos de saúde e suporte psicológico, muitos enfrentam barreiras financeiras e geográficas. A pandemia de COVID-19 ampliou essas desigualdades, mas também acelerou a expansão da saúde digital. Iniciativas como o Elos Bem-Estar, plataforma de saúde mental da Ativa, que possibilita terapia online de forma acessível, conectada e humana, mostram como a tecnologia pode aproximar pessoas de profissionais qualificados e reduzir barreiras de acesso.
Responsabilidade coletiva e ética na comunicação
A ética jornalística, conforme orientações da Organização Mundial da Saúde, da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Fenaj, recomenda que o tema suicídio seja tratado sem sensacionalismo, evitando descrições ou números fora de contexto. O objetivo é preservar a dignidade e destacar caminhos de apoio. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma referência nesse acolhimento, oferecendo atendimento gratuito e sigiloso pelo telefone 188 ou online em cvv.org.br, 24 horas por dia.
Mas a responsabilidade não é apenas dos especialistas ou das instituições: cada pessoa pode contribuir ao ouvir sem julgar, oferecer apoio, respeitar diferenças e incentivar a busca por ajuda profissional. Do mesmo modo, é essencial que quem sofre se sinta encorajado a pedir ajuda sem vergonha — reconhecer limites e procurar apoio psicológico é um ato de cuidado, não de fraqueza. Pequenas atitudes de empatia podem ter grande impacto, criando laços de confiança e esperança.
Datas que reforçam o compromisso com a vida
As campanhas ganham ainda mais força quando conectadas a momentos de reflexão coletiva. O 10 de setembro, Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, simboliza o compromisso global com a vida e reforça a necessidade de abrir espaços de diálogo sobre saúde mental. Já o 15 de setembro, Dia do Cliente, traz a oportunidade de lembrar que relações de confiança — seja entre trabalhadores e empresas ou entre empresas e clientes — só se sustentam quando há respeito, cuidado e valorização da vida.
Iniciativas como rodas de conversa, palestras educativas, capacitação de gestores e canais de escuta interna podem ser implementadas com baixo custo e alto impacto. O Setembro Amarelo nos lembra de que saúde mental é vida, segurança e responsabilidade coletiva.
Seja no trabalho, em casa ou nas relações sociais, a empatia, o respeito e o apoio mútuo são fundamentais para construir ambientes mais saudáveis, humanos e sustentáveis.
Fontes
- Organização Mundial da Saúde (OMS): Suicide worldwide in 2019 (2021).
- Ministério da Saúde – Suicídio: saber, agir e prevenir (2023).
- Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) – Campanha Setembro Amarelo (2024).
- Conselho Federal de Medicina (CFM).
- CVV – Centro de Valorização da Vida (cvv.org.br).
- NR-1 – Ministério do Trabalho e Emprego (2022).